Arlete Argente Guerreiro
Perseguida por sucessivos problemas de saúde ao longo da vida, a poetisa e contista siniense nunca abandonou o tom humorado e idealista.
Criança precoce
A escritora Arlete Argente Guerreiro, “Argentinita” para os mais próximos, nasce no número 54 da Rua Teófilo de Braga, em Sines, no dia 1 de janeiro de 1905, filha de Manuel João Guerreiro, operário corticeiro e comerciante, e de Clotilde Argente Guerreiro.
É uma criança doente. Chega à idade escolar com graves problemas na visão e na fala, mas, apesar das limitações físicas, revela-se uma excelente aluna, com predileção pela área das letras. A professora Emília Mendes da Silva, animada pela sua precocidade intelectual, acompanha-a de perto.
A saúde volta, porém, a traí-la na altura de ingressar no liceu. Não pode matricular-se no Liceu Normal, em Lisboa, o que a impede de cumprir o sonho de frequentar o curso do magistério.
Em plena adolescência, embora a visão melhore, fica praticamente surda.
Publica e ganha admiradores
As sucessivas fatalidades físicas não a impedem, no entanto, de estudar, aproveitando os conhecimentos adquiridos para se dedicar à literatura.
Em 1933, começa a publicar textos em dezenas de suplementos literários de jornais de todo o país, onde ganha admiradores e faz amizade com figuras como Aníbal Mendes, A. Garibaldi e Alsácia Fontes Machado.
É decisiva na sua formação e acompanhamento a influência da escritora Aurélia Borges (a responsável pela primeira edição da obra de Florbela Espanca), com quem se corresponde e que se torna a sua grande mentora.
Em 1937, porém, a saúde de Arlete Argente Guerreiro degrada-se de forma irreversível. Passa os últimos anos da sua vida na cama.
Testemunho do interesse que os seus textos despertam, Joaquim de Sines Fernandes, responsável pelo “bosquejo biográfico” incluído na edição do “Contos e Poesias Infantis”, a única fonte escrita de informação sobre a vida da escritora, dá conta do número de leitores que se dirigem à redação do jornal “Voz do Minho” a inquirir o motivo da falta de produções da Argentinita.
Arlete, no entanto, pouco mais escreve, morrendo a 4 de novembro de 1940, na mesma rua onde nasceu (Rua Teófilo Braga, prédio com os números 89 e 91). A sua morte motiva textos consternados de colegas poetas e de leitores em jornais de todo o país, expressão da saudade pela escritora e pela “pessoa de emoção suave e belo coração” (Aurélia Borges).
Após a sua morte, Aurélia Borges, o professor Joaquim Sines Fernandes e o irmão, Jacinto Argente Guerreiro, formam uma comissão com o intuito de levar ao prelo as obras completas de Arlete. O primeiro volume sai em 1947, nas Edições Expansão, e reúne os contos e poemas infantis. O livro foi reeditado em 1981 pela Câmara Municipal de Sines.
Obra inédita
Não conhecemos mais nada da obra de Arlete Argente Guerreiro, uma vez que os restantes três volumes previstos na edição dos anos 40 (Teatro Infantil, Líricas e Sonetos e Contos) não chegaram a ser publicados na altura nem posteriormente.
Parte dos textos de Arlete ter-se-á perdido pouco depois da sua morte. Mas o corpo que resultou da recolha da comissão presidida por Aurélia Borges ainda existe, estando neste momento à guarda da filha do professor Sines Fernandes, Maria Adelaide de Sines Fernandes, que espera uma oportunidade para serem publicados.
Só então conseguiremos ter uma visão mais completa da personalidade literária de Argentinita.
Fontes de informação
A principal fonte desta biografia é o “Bosquejo Biográfico”, da autoria do professor Sines Fernandes, que prefacia o volume “Contos e Poemas Infantis”. A sua filha, Maria Adelaide de Sines Fernandes, forneceu informações adicionais sobre a vida da autora e o destino dos seus escritos.