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Município assinala centenário da morte de Cláudia de Campos

21 de Novembro de 2016

O município de Sines atribuiu a medalha de mérito, a título póstumo, a Cláudia de Campos em 1995. Na altura, não foi possível encontrar descendentes da escritora, pelo que a medalha ficou na posse do presidente da Câmara, como seu fiel depositário. Em 2016, ano em que se assinala o centenário da morte da autora, a medalha vai finalmente chegar às mãos de familiares da homenageada, Mafalda Magalhães Barros e Luísa de Magalhães Barros Franco, numa cerimónia a realizar a 26 de novembro, às 10h45, no Centro de Artes de Sines.

A entrega da medalha de mérito abre a visita a Sines a realizar no dia 26 no âmbito do Congresso “Celebrating our foremothers: on the occasion of the centennial of Cláudia de Campos” (http://claudiadecampos.wixsite.com/neww), que nos dias 24 e 25 de novembro está centrado na Biblioteca Nacional, em Lisboa. O congresso é organizado pela Universidade de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa e Women Writers’ Network, com a parceria da Câmara Municipal de Sines, entre outras entidades.

A visita à Sines de Cláudia de Campos inclui um percurso por locais da cidade ligados à vida e à obra da autora: Farol, Forte de Revelim, Igreja de Nossa Senhora das Salas, Capitania, Casa Vasco da Gama, Penedos, Rua Teófilo Braga, Igreja Matriz, Câmara Municipal de Sines e cemitério.

As inscrições para a visita são limitadas aos lugares disponíveis nos autocarros e devem ser feitas no Arquivo Municipal pelo endereço eletrónico arquivo@mun-sines.pt.

Nova edição do livro “Ele” e filme sobre a escritora

Além da entrega da medalha de mérito e da parceria na organização do congresso dedicado à escritora, a Câmara Municipal de Sines assinala o centenário da morte de Cláudia de Campos com a publicação da terceira edição da obra “Ele”, publicada originalmente em 1899. A obra, cuja ortografia foi atualizada, estará à venda no Centro de Artes de Sines a partir de 24 de novembro e terá uma apresentação pública em data a designar.

A Câmara Municipal de Sines vai também estrear uma curta-metragem sobre a escritora, um projeto coordenado pelo Arquivo Municipal de Sines, com realização de Diogo Vilhena e produção de António Campos. O filme, intitulado “Eu”, propõe a descoberta da autora através das suas próprias palavras, visitando as suas vivências, os seus amores, a sua personalidade e intimidade, às quais se juntam os testemunhos de quem estudou esta mulher e de histórias de quem a conheceu e que passaram de geração em geração. O filme será apresentado no auditório do Centro de Artes, no dia 26 de novembro, às 10h30, antes da entrega da medalha de mérito.

Quem foi Cláudia de Campos

Maria Cláudia de Campos Matos, conhecida por Cláudia de Campos, nasceu no dia 28 de janeiro de 1859, em Sines, filha de Francisco António de Campos e de Maria Augusta Palma de Campos. Teve uma educação esmerada, da qual fizeram parte as literaturas inglesa e alemã.

Casou aos 16 anos com Joaquim Ornelas e Matos e após alguns anos de casamento, estabeleceram-se em Lisboa na Avenida Duque de Loulé. A vida conjugal não foi bem sucedida, apesar dos dois filhos do casal, e, em 1888, Cláudia de Campos e Joaquim Ornelas e Matos separaram-se judicialmente. A escritora tornou-se uma mulher autónoma e iniciou-se uma nova fase da sua vida.

Após a separação, a escritora publicou a sua primeira obra, uma coletânea de contos, “Rindo”, em 1892. Foi na última década do século XIX que se concentrou a sua produção literária e ensaística. Já Coelho Neto (1864-1934), em carta dirigida a Garcia Redondo (1854-1916), no dealbar do século XX, se lhe referia nos seguintes termos: “vou escrever sobre ela um artigo na Gazeta. Não conheço outra mulher que escreva a nossa língua com mais desembaraço do que essa formosa autora. (…) Li os seus livros – e neles, achei encanto e amargura, mel e travo – não são escritos banais, têm observação e trabalho (…)”. Da mesma forma, a feminista, publicista e pacifista polaca Maria Cheliga-Loevy (1854-1927), cedo afirma acerca da autora “portuguesa, cuja pátria intelectual é a Inglaterra, escritora conscienciosa, Madame Cláudia de Campos, tem, sobretudo, uma inclinação especial para os trabalhos de crítica. Jornalista uma vez por outra, nos seus artigos robustos, marcados por um estilo nítido, claro e preciso, dá testemunho incontestável de um espírito bem mais solidamente equilibrado do que o possuem bastantes detratores da mulher…”

O romance mais destacado, “Ele” (1899), retratava a vila de Sines como lugar de uma infância idílica e de uma idade adulta complexa, contra os preconceitos de uma pequena povoação. A sua vertente ensaística acerca da literatura feminina e da participação das mulheres na sociedade teve o seu expoente em “Mulheres: ensaios de psicologia feminina”, obra publicada em 1895. Cláudia de Campos defendia a educação como meio de emancipação da mulher, o que significa que era mais reformista do que revolucionária.

Além da literatura, teve um papel cívico relevante, até se afastar da ribalta e da sociedade. Em 1906 fez parte da direção da Secção Feminista da Liga Portuguesa da Paz e eleita vogal do Comité Português da agremiação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes. Acabou por falecer em 30 de dezembro de 1916, longe dos grandes holofotes.

Texto sobre Cláudia de Campos da autoria de Sandra Patrício e Isabel Lousada.