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João Martins

João Martins

Estrela do Sporting Clube Portugal e da seleção nacional de futebol nos anos 50, João Martins foi considerado o "sexto violino". Foi o atleta nascido em Sines que mais se destacou até hoje.

Da cortiça para o futebol

João Baptista Martins nasce em Sines no dia 3 de setembro de 1927. O seu primeiro emprego é na indústria da cortiça, como entalhador de rolhas.

Começa a jogar futebol no Sport Lisboa e Sines (também conhecido por "Nacional"), aos 16 anos. O seu primeiro jogo realiza-se em Alcácer do Sal, contra o Barrosinha.

Ainda júnior, aos 17 anos, o chefe de uma fábrica de conservas faz-lhe um convite para jogar no Olhanense, da I Divisão Nacional. Foi sozinho no comboio e esteve no Algarve um mês. As saudades fizeram-no regressar a casa.

Entrada no Sporting

Mas o seu destino era sair de Sines e cumprir a vocação num clube grande.

Um dia, um misto do Barreiro vem jogar ao Alentejo. Com Martins ao centro, o Sport Lisboa e Sines vence por 6-1. Três golos do jovem avançado-centro e uma exibição portentosa fazem a CUF interessar-se por ele. Prometem-lhe emprego e Martins assina.

Mas o emprego não vem e meia hora antes do primeiro jogo oficial no novo clube, já na cabine, Martins recusa-se a alinhar (tem esse direito, de acordo com a legislação da altura).

Levado por um massagista da CUF, o sineense apresenta-se em Alvalade em 1946. Abrantes Mendes e Buchelli, então técnicos do clube leonino, experimentam-no juntamente com Vasques e Travassos. Martins, ainda que sem o fulgor dos dois companheiros do exame, agrada e fica. O seu ordenado mensal, de 400$00, é uma fortuna para o novato que saíra de Sines à aventura. Ao clube, o negócio fica muito barato: paga por ele apenas 100$00.

Martins, o versátil

Ao chegar ao Sporting (clube do seu coração desde que o ciclista ferreirense Alfredo Trindade empolgava o país na sua rivalidade com o benfiquista Nicolau) João Martins era um magrizela. Aos dezasseis anos, já com um 1,74m de altura, pesava apenas 48 quilos. Bastaram-lhe uns meses de Sporting e refeições reforçadas para aumentar 13 quilos.

Quando entra no clube de Alvalade, que então iniciava a sua década ouro (1950s), a concorrência é forte: nada mais nada menos que a linha avançada que ficou conhecida pelos "Cinco Violinos".

Joga pela primeira vez como sénior contra o Vitória de Setúbal, no lugar de Jesus Correia. A estreia é boa. O Sporting faz nove golos e um deles é do caloiro alentejano.

A oportunidade para segurar um lugar na equipa surge na época de 1949/50, com o abandono de Peyroteo.

Martins destaca-se pela versatilidade. É o operário da equipa, joga em todas as posições. Do número 7 ao número 11, o homem de Sines percorre toda a escala. Num jogo com o Oriental, chega a ocupar a posição de guarda-redes.

"O melhor avançado-centro português"

Mas a posição em que mais se destaca é a de avançado-centro. O "violino" Travassos, companheiro e amigo, diz na ocasião da sua morte (1993), ao jornal "Sporting": "Foi o melhor avançado-centro que já existiu no futebol português. Desmarcava-se muito bem, isolava-se com facilidade, fugindo à marcação dos adversários, e tinha excelente aptidão para o jogo de cabeça, o que causava o pânico entre as equipas que defrontávamos"

Na época 1953/54, à frente de nomes como Matateu e José Águas, João Martins recebe a "Bota de Prata" como melhor marcador do campeonato nacional (31 golos).

Ainda no Sporting, ganha os célebres quatro campeonatos seguidos (1950-51, 1951-52, 1952-53 e 1953-54), o campeonato de e 1957-58 e a Taça de Portugal (1953-54).

Faz história ao disputar o jogo que inaugura a Taça dos Campeões em Alvalade (Sporting-Partizan: 3-3) em setembro de 1955, marcando dois golos. Na Taça Latina, em 1952, no Juventus-Sporting (3-2), em Paris, volta a marcar dois golos. Repete a proeza em mais dois jogos desta Taça: Milan-Sporting (4-3) e Sporting-Valência (4-1).

Martins na seleção

É convocado pela primeira vez para a seleção nacional a 23 de novembro de 1952, com 24 anos. É internacional em três lugares (avançado-centro, extremo-direito e extremo-esquerdo), vestindo 12 vezes a camisola da equipa portuguesa.

Depois de representar o Sporting durante 13 temporadas, retira-se em 1959. O seu último jogo oficial é diante do Caldas (0-0), em 22 de fevereiro. E o último golo é marcado ao Torreense (2-0), em 10 de fevereiro. Em novembro desse ano, Alvalade despede-se dele com uma justa homenagem.

Fair-play

Ao longo da carreira, João Martins marca 258 golos pelo Sporting e revela um "fair play" perfeitamente incomum. A Federação Portuguesa de Futebol agracia-o com a "Medalha de Exemplar Comportamento" por ter efetuado mais de 400 jogos sem um único castigo.

Depois de deixar o futebol, como os salários da altura não permitiam uma reforma ouro aos 32 anos, João Martins volta ao trabalho. Durante mais de duas décadas vive emigrado em França, onde se emprega como operário fabril.

No dia 16 de novembro de 1993, com 66 anos, morre, por insuficiência cardíaca. O seu corpo vem de França e é sepultado em Sines.

Nesse mesmo ano, a Câmara Municipal de Sines agracia-o, a título póstumo, com a Medalha Ouro de Mérito Desportivo Municipal.

Em 25 de abril de 2008, o Parque Desportivo Municipal recebe o seu nome.